UFC

O terror do UFC

Foto: Jeff Zelevansky/Getty Images

É dia das bruxas, é Halloween. Durante toda a semana será comum ver pessoas fantasiadas em trajes assustadores, no clima macabro da data comemorativa. No mundo das lutas isso é comum entre atletas. Mas um movimento ainda tímido, quase que nos moldes de “uma fantasia de mentirinha”, começa a ganhar força no mundo das lutas a ponto de no futuro assustar de verdade os maiores dirigentes do MMA. Encorajado por atletas demitidos, reclamando de contratos, salários, tratamentos e decisões, a fantasia de bom funcionário pode ser trocada pela de revolucionário em breve. Maior organização de MMA do mundo, o UFC tem adotado uma filosofia diferente nos últimos meses, algo que maximiza o poder do entretenimento diante da esportividade, mais valorizada tempos atrás. E isso tem feito com que personalidades da modalidade pensem na criação de uma associação de lutadores para brigar pelos direitos dos atletas.

O assunto já foi ventilado, inclusive, entre atletas brasileiros recentemente. José Aldo, por exemplo, chegou a sugerir Vitor Belfort como possível líder de um movimento que buscaria a valorização dos direitos dos lutadores no MMA. É um ótimo nome. O carioca tem 20 anos de carreira, sabe bem as dificuldades e necessidades de viver do MMA e é influente, o que lhe dá força para liderar uma união que lute contra organizações que ignoram os direitos e o valor dos atletas. Atualmente, existe a Associação de Lutadores de MMA (MMAFA), liderada por Rob Maysey, advogado que vive no Arizona (EUA). O grupo que vem lutando por muitas questões a favor de lutadores. Mas ainda é pouco, falta o compromisso de atletas para se unirem pela causa.

Em julho, foi anunciada a venda do UFC para o grupo WME-IMG por US$ 4 bilhões (cerca de R$ 13 milhões). Isso abriu os olhos de muitos atletas que representam a companhia há tempos. Cadê o pedaço do bolo deles? Contratos rígidos, elos intermináveis, salários baixos, compromissos infinitos com a mídia, batalhas judiciais, veto a patrocinadores na semana da luta (uma das maiores fontes de renda de lutadores), com a chegada da Reebok… São diversas as reclamações dos lutadores. O assunto não é polêmico apenas com o UFC. Lutadores reclamam de seus direitos e merecimentos em outros eventos de MMA ao redor do mundo. O que acontece é que, devido ao tamanho e a evidência do Ultimate, a questão é mais debatida por atletas que fazem (ou fizeram) parte de seu plantel.

É importante dizer que o UFC é uma organização que promove muito bem seus atletas, o que resulta em contratos valiosos e oferece um suporte de alto nível. É claro que não é uma organização marcada apenas pelas polêmicas que seus lutadores apontam. A criação de uma associação facilitaria o diálogo e agregaria valor diante de uma possível mediação para tratar de casos que envolvam ambas as partes.

Recentemente, nomes como Randy Couture, Mark Hunt, Fabricio Werdum, José Aldo, Jon Jones e até Conor McGregor denunciaram ao mundo algum tipo de problema com decisões tomadas pelo UFC. Como funcionários, eles têm que cumprir a maioria das ordens da companhia. A questão é que muitas vezes a busca por uma melhor condição financeira os força a aceitar certas coisas calados. Na última semana, Georges Saint Pierre, ex-campeão do UFC e um dos maiores nomes da franquia, anunciou que buscaria se livrar do contrato com o Ultimate. Seu advogado tratou o contrato do lutador com a franquia — ainda em vigor, apesar do tempo sem lutar — como um “contrato de escravidão”. Astros do MMA são as maiores esperanças para liderarem um movimento e conquistarem a credibilidade que merecem.

Não será fácil convencer atletas a participarem de um movimento que pode limitar as imposições de uma organização de MMA. Mas não custa nada participar de algo que pode, ao menos, gerar debate e abrir os olhos de dirigentes para o valor e as dificuldades que lutadores de MMA enfrentam diariamente para se apresentarem em alto nível, em uma modalidade de tão alto impacto e risco. O UFC pode até fazer cara feia, ou quem sabe nem se assustar. Mas, como maior companhia do MMA, tão importante para a evolução do esporte, seria justo aceitar e contribuir para um melhor futuro para aqueles que colocam a cara a tapa, literalmente.