Tênis

O troféu não importa! Juan Martín Del Potro já é o grande campeão deste US Open 2017

Foto: Abbie Parr/Getty Images

Argentino ressurge no circuito de maneira espetacular e comprova que seu talento é tão grande quanto o de Federer e Nadal  

Juan Martín Del Potro talvez seja o atleta da atualidade que melhor represente o esporte da Argentina, tão em baixa na sua boa e velha raça. Nada da genialidade de Lionel Messi ou da frieza desconcertante de Manu Ginóbili. O que Del Potro faz a cada vez que alcança fases decisivas como a deste US Open é encher o olho de lágrimas de quem aprecia que a maior virtude de um atleta continua sendo o seu gigante coração.

Uma lição para o mundo

Del Potro esteve praticamente afastado do tênis profissional por quase cinco anos. Em meio às seguidas lesões no punho, ele surpreendeu todos no ano passado, quando ressurgiu do nada para simplesmente ganhar a medalha de prata na Olimpíada e para faturar a Copa Davis para a Argentina naquela que foi a maior alegria esportiva do país desde a Copa de Maradona em 1986.

O mérito acabou não sendo apenas uma questão física. “Delpo” precisou ajustar seriamente seu jogo. O seu golpe de esquerda, por exemplo, passou a ser executado sempre com slice, virando um recurso meramente defensivo. E mesmo assim, “com uma mão só”, ele ganhou partidas épicas como as que fez contra Novak Djokovic e Rafael Nadal na Olimpíada ou contra Marin Cilic na decisão da Copa Davis.

O frenesi causado por Juan Martín foi tamanho que até Diego Maradona fez questão de viajar para ver sua final na Davis e entrar no vestiário para se ajoelhar e beijar o seu pulso tantas vezes operado.

Maradona não está em Nova York, mas mais um de um fanático, e não só argentinos, estão se ajoelhando e beijando o pulso de Del Potro. Ele está jogando bem como não jogava fazia muitos anos. Suas vitórias sobre Dominic Thiem e Roger Federer foram das mais incontestáveis desta temporada. O desafio da semi desta sexta-feira é gigante. Do outro lado está outro gênio quando o assunto são as recuperações e as superações. Rafael Nadal vai lutar como sempre luta – mas ninguém que acompanha o circuito discute que os recursos técnicos de Delpo são bem superiores aos de Nadal.

O argentino saca muito melhor e tem um golpe de direita que talvez seja o mais violento da história – um espetáculo.

A outra semifinal do US Open não tem tantas atrações assim. O espanhol Pablo Carreño Bustas e o sul-africano Kevin Anderson estão aí muito mais pelas deficiências dos rivais do que por méritos próprios. São tenistas limitados e sem carisma. Improvável imaginar que qualquer um dos dois vá fazer frente a Nadal ou Delpo na decisão deste domingo.

Decisão feminina será 100% americana e 10000% inesperada

De um lado, Madison Keys. Do outro, Sloane Stephens. Nas arquibancadas ou na frente de uma telinha em todo o mundo, uma enorme cara de espanto. Ninguém entende nada do que está acontecendo no circuito feminino.

Os jogos das mulheres sempre tiveram essa característica imprevisível e de gangorra que apresenta o tênis. Mas há um verdadeiro vácuo nesta modalidade e ninguém se aproveita, por exemplo, da gravidez de Serena Williams, do doping de Maria Sharapova ou das inconstâncias inevitáveis que balançam as europeias que sempre surgem e desaparecem do topo do ranking com a mesma facilidade.

Keys é a 16ª no ranking da WTA, a versão feminina da ATP. Stephens surge só como a 86ª. Os tempos de Jennifer Capriati, Monica Seles, Lindsay Davenport e tantas americanas que dominaram o circuito ficaram realmente para trás. Tirando as irmãs Williams, que são realmente um caso único no esporte mundial, o país atinge esta instância do Grand Slam apenas aos trancos e barrancos, como mostram as campanhas de ambas até aqui.

Madison Keys e Sloane Stephens não têm resultados significativos em suas carreiras, e a decisão deste sábado corre risco de ser uma das mais esvaziadas da história, algo parecido com o que ocorreu na decisão masculina de 2014 entre o japonês Kei Nishikori e o croata Marin Cilic. Stephens tem 24 anos, Keys, apenas 22. Ambas insistem no estilo que é o lugar-comum do tênis feminino dos últimos anos, com muitas pancadas, muitos erros e muita irritação do público que não vê a variação que foi a característica de tenistas tão estilosas como Martina Navratilova, Steffi Graf e a inesquecível belga Justine Henin-Hardenne.

O presente do tênis feminino é cheio de dúvidas – o futuro, então, nem se fala. Não há no horizonte nenhum nome que faça jus aos de antigamente, o que é uma enorme pena.