Tênis

Campeão do US Open, Rafael Nadal aumenta sua lenda. Maior que Federer? Sim, por que não?

Foto: Chris Trotman/Getty Images

“Touro miúra” varre Del Potro e Anderson em Nova York e chega ao seu 16º título de Grand Slam. E pensar que ele deixou de disputar outros nove…

Rafael Nadal voltou a morder um troféu de Grand Slam. Dado por muitos como aposentado e como “tenista que duraria só até os 25 anos, de tanto que corre por não saber jogar”, o mito espanhol nem precisou suar para atropelar o sul-africano Kevin Anderson por 3 sets a 0 (6/3, 6/3 e 6/4) e conquistar o US Open neste domingo (10) no fantástico complexo de Flushing Meadows, em Nova York.

A decisão de verdade para Nadal foi a semi, contra o argentino Juan Martín Del Potro, que havia vencido com brilho o austríaco Dominic Thiem e o suíço Roger Federer. Del Potro foi tão fantástico que ganhou de Thiem em cinco sets e de Federer em quatro – mas sofrendo de uma forte gripe que cobrou sua conta na partida contra Nadal. Del Potro foi atropelado por Rafa. Quem acompanha tênis há bastante tempo imediatamente se lembrou da decisão da Davis de 2011, quando Nadal também se aproveitou da limitação física de Del Potro para dar a Saladeira à Espanha.

A maior lenda da história do tênis

Nadal está com 31 anos – e jogando pelo menos seis temporadas a mais do que previam seus cruéis críticos, que vibravam a cada lesão sofrida pelo espanhol. E foram de fato muitas contusões nas últimas temporadas. Engraçado. Falavam dos machucados de Nadal como se apenas ele se machucasse e como se ele de fato merecesse o castigo por seu estilo pouco ortodoxo, de golpes menos brilhantes que Roger Federer. Isso é fato. Mas outro fato é reconhecer também que o tênis não se ganha só com brilho.

Triunfar com uma raquete em mãos exige demais da mente e do coração – e que nos desculpem os fãs do principesco Federer, mas talvez nem os mais fanáticos pelo suíço vão questionar que Nadal é, sem margem para muita discussão, a maior cabeça e o maior poder de superação jamais visto em uma quadra de tênis.

Quem ensina mais para o mundo, aquele que se supera ou aquele que reluz sua técnica?

Colocar lado a lado os currículos de ambos é um pouco enganoso por duas razões. A primeira é a idade. Federer está com 36 anos, cinco a mais que o espanhol. É óbvio até para uma criança aprendendo matemática que seu cartel será mais extenso que o de Nadal.

A segunda questão é a qualidade dos adversários. Federer teve seus anos de auge em um momento paupérrimo de adversários e totalmente oposto ao de agora. Tanto foi assim que Nadal, mesmo aos 19 anos, já era um rival de peso para o suíço – e o batendo logo de cara.

Federer teve como melhor ano seu 2005 inigualável de 95% de vitórias. Mas sobre tenistas ou em fim de carreira, como Andre Agassi, ou jovens e fracos, como Andy Roddick. Federer estava no auge dos auges. Mas quando enfrentou gente brava como Marat Safin ou Rafael Nadal, perdeu – como perdeu em Melbourne e em Paris naquela fantástica temporada.

Nadal não teve tal privilégio. Sua carreira foi toda construída ao lado de Federer, Djokovic, Murray e Del Potro, para ficar só em quatro nomes. Mesmo as decisões vencidas contra tenistas “ocasionais”, como agora, com Anderson, precisam ser colocadas em perspectiva. Quantas mais Nadal contou com tal sorte? Talvez só Roland Garros-2005, com Mariano Puerta, e Wimbledon-2010, com Thomas Berdych. Já Federer? Com Phillippoussis, Roddick, Baghdatis (!), González (!!)…

Uma máquina de vencer

Recorrer ao confronto direto entre Nadal e Federer é também agigantar a lenda espanhola e diminuir a suíça. Está 23×14 Nadal em jogos de simples e 2×1 em duplas.

Que o tênis de Federer é mais vistoso, não se discute. Que o de Nadal é mais eficiente, também não. Nadal é o único tenista na história a conquistar os quatro títulos de Grand Slam, a Copa Davis e a medalha de ouro olímpica em simples e em duplas. Federer tem uma carreira impressionante e seu amor pelo tênis – mesmo aos 36 anos –  é mesmo digno de muitos aplausos.

Mas quando se encontra do outro lado da rede um adversário, como Nadal, que ganhou torneios do Grand Slam como adolescente, com mais de 20 e com mais de 30 anos, só resta mesmo reconhecer que o espanhol pode sim ser colocado como o maior de todos os tempos sem o menor pudor.

Seus 16 títulos de Grand Slam ainda precisam de mais três para virar os 19 do recordista Federer. Mas que tal olhar um pouco além dos números e reconhecer que, por conta das lesões, Nadal não pôde competir simplesmente em nove Slams, muitos deles quando estava em ótimo momento?

Federer ou Nadal?

Nadal – e sem pensar duas vezes!