Copa Libertadores

8×0 River: quando o assunto é raça, existe a Série A, de Argentina. E a Série B, de Brasil

Foto: AP Photo/Gustavo Garello

O Brasil, que antes dava caneta e carretilha, hoje nem isso. Só dá vergonha. Deveria aprender com a “vergonha na cara” dos vizinhos

Como explicar o épico 8×0 do River Plate sobre o Jorge Wilstermann pela Libertadores da América? Da mesma maneira como se explica o Atlético-MG não ter feito nenhum mísero gol sequer, em 180 minutos do mesmo mata-mata, no mesmo time da Bolívia: una cuestión de actitud, já cantava Fito Páez, dos argentinos mais famosos no Brasil.

E esta tal atitude é mais que um divisor de águas e de fronteiras. É o que delimita que a Argentina, em termos de raça, hoje e sempre é Série A. E o Brasil é Série B, de “bobo”, “boludo” ou “besteira que fizemos com o nosso esporte”.

Não há diferença gritante de time entre River e Galo. E nem do River para o Palmeiras – que também perdeu para o Wilstermann e daí demitiu o técnico Eduardo Baptista. O que existe mesmo é uma diferença de coragem, de cabeça, de vontade de ganhar. Na Argentina existe o termo mais que repetido de “deixar tudo em campo”. Os jogadores brasileiros “deixam tudo no banco”. Só interessa o dinheiro. A grana. Não a grama do gramado. Ganhou, empatou, perdeu? O que importa é que rendeu. O salário está na conta – siga aí com seu choripan que a gente só vai de camarão.

Que ferro forte, em todos vocês que defendem o futebol brasileiro.

Nem tengo ganas de fazer o mesmo. Sensação de repulsa e de perda de tempo. Como a “maior torcida do Brasil”, que é o Flamengo, não enche um estádio para 20.000 pessoas? E joga com um público de São Caetano, como no sábado contra o Avaí? E depois a Argentina é que é a terra do tango, da melancolia e da depressão?

Parem tudo, queridos.

 

Uma torcida incomparável

Fiquem aí olhando no espelho. Nós, portenhos, estamos em outra sintonia, em outra onda. Em outro piso. Nós, torcedores do River, só falamos de futebol com torcedores do Barcelona e do Real Madrid.  E do Barça catalão, hein?! Não do Guayaquil.

River, Real e Barça. Somos a santíssima trindade do futebol mundial. E onde está o Brasil?! Talvez dando vexame – começando a Libertadores com recorde de participantes e tendo o mesmo número de semifinalistas que o… Equador.

Que tristeza, muchachos.

Quando caminhava até chegar ao Monumental de Núñez na quinta-feira (21), lembrei do chavão de a “torcida do Corinthians não ir ao estádio para torcer, e sim para curtir a si mesma”.

Que criancice.

Quem diz isso jamais deve ter pisado em um estádio argentino, onde a alma transborda e a história se sente na pele – e não este formato esdrúxulo de Xerox que muitas dessas “arenas” modernas têm hoje do Brasil.

Torcedores brasileiros hoje parecem estudantes cheios de espinhas a caminho da máquina de Xerox para copiar apostilas das faculdades. Terrible.

Outra coisa que passava pela cabeça na prévia de quinta era rumar até o único estádio argentino campeão do mundo. E qual estádio brasileiro é campeão do mundo? O “Maracanazo”? O “Mineirazo”?

Assistindo ao jogo ao lado de outras 80.000 pessoas em um Monumental onde mal cabem 60.000, aos três minutos de jogo já se tinha a certeza de que os três gols para varrer o Wilstermann do mapa sairiam cedo ou tarde. E foram cedo demais: aos 18 do primeiro tempo já estava 3×0. Aos 18! Em 180, o Galo não fez nenhum golzinho sequer.

Expliquem. Eu só dou risada. Patético Mineiro.

Falar que a vitória me deixou atônito, eufórico e alucinado não é verdade – a verdade é que nada resiste ao arquivo. E muito antes do jogo já falávamos aqui no Ganhador: este River passaria por cima dos bolivianos e o 3×0 não seria nada – afinal, repetimos desde antes deste mata-mata com o Wilstermann que só mesmo uma enorme surpresa tira a Libertadores da ‘La Máquina’, como aqui em Buenos Aires chamamos este time do River.

 

Soberania argentina

O Defensa y Justicia eliminou o São Paulo. O Racing mandou o Corinthians para a casa. O San Lorenzo arrasou o Flamengo. O Lanús passou fácil pela Chapecoense.

1) Os estádios brasileiros estão totalmente mortos. Quando jogadores brasileiros vão para um campo onde a torcida se sente de verdade, como o Cilindro de Avellaneda, acontecem bizarrices como o descontrole de Rodriguinho ser expulso com três minutos em campo.

2) O mimimi brasileiro passa também pela arbitragem. O jogo praticado no Brasil é outro esporte em comparação com o restante da América do Sul. Quando meninos tratados com leite com pêra saem do país – ou da barra da saia da mãe – dão vexames.

3) Enquanto o brasileiro não valorizar a hombridade e a vergonha na cara da mesma maneira que a caneta e carretilha, a chance de mudança é zero vezes zero.

4) Falem e falem: mas com outros, não conosco, do River. A gente só conversa, repito, com torcedores do Barça e do Real. Era 7×1. Agora é 8×0. Placar aberto – e contando.